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As falácias que rodearam o sorteio da Liga dos Campeões da Europa

Desde o sorteio do mata-mata da UEFA Champions League, muito foi falado, mas pouco foi realmente analisado com embasamento.


Na última sexta-feira (10), foi realizado o sorteio que definiu os confrontos das próximas fases da UEFA Champions League e da UEFA Europa League. Ambas voltarão com um formato diferente das edições anteriores e, sem dúvidas, a principal mudança foi a opção por jogos únicos nos confrontos válidos pelas fases de quartas-de-final e semifinal. Nesse cenário, a possibilidade de "zebras" acontecerem é muito maior do que num jogo de ida e volta, já que ambos os times terão apenas 90 minutos para buscarem o resultado, além da ausência de mandante no campo neutro.


(para saber mais, escute o podcast https://open.spotify.com/episode/2kJkCvGa1GaWm9hO7VtFuB?si=i5BLxfSqTUq2i9xXe_Hl3w)


Na Liga dos Campeões, competição de futebol mais aguardada da temporada, o resultado do sorteio apresentou uma informação curiosa: de um lado da chave, os clubes somam 26 títulos (13 do Real Madrid, 5 do Bayern de Munique, 5 do Barcelona, 2 da Juventus e 1 do Chelsea; Manchester City, Napoli e Lyon completam os confrontos que ainda não foram disputados pelas oitavas-de-final); do outro lado, Leipzig, Atlético de Madrid, Atalanta e PSG nunca levantaram a orelhuda. Logo, a teoria de que "camisa pesa" não poderá ser utilizada no lado sem títulos do chaveamento, destacando ainda mais as diferenças de cada elenco. Nesse contexto, diversos amantes do futebol e até mesmo grandes emissoras têm colocado o Paris Saint-Germain como grande favorito para disputar a grande final no Estádio da Luz, em Portugal. Não apenas pelo domínio exercido pelo time parisiense no Campeonato Francês, mas também pelo elenco astronômico composto por Neymar, Mbappé, Di María e companhia. Entretanto, o que esse público não está levando em conta é o momento e as características das outras equipes que poderão bater de frente com o atual campeão francês.

Como ficou o sorteio da Champions League; confronto 1 cruzará com o 3 e o 2 com o 4. (Imagem: Divulgação/Twitter UEFA Champions League)

O desfalcado, mas valente, RB Leipzig


O clube do leste da Alemanha nunca venceu um título de expressão em toda sua história: seu auge foi a vice-liderança da Bundesliga e eliminação nas quartas-de-final da Liga Europa. Nessa temporada, passaram em 1º na fase de grupos da Liga dos Campeões e ficaram em 3º no Campeonato Alemão. Nas oitavas-de-final, eliminaram o vice-campeão da edição passada: o Tottenham Hotspur. O placar agregado foi de 4x0, mostrando a superioridade do time patrocinado pela Red Bull.


O grande problema do Leipzig para o confronto contra o Atlético de Madrid é a ausência do seu artilheiro e craque: Timo Werner já está acertado com o Chelsea e desfalcará o elenco nas quartas-de-final. Essa perda muda grande parte dos planos do treinador Julian Nagelsmann, já que o atacante alemão era a principal arma ofensiva da equipe - mas não a única. Com meio-campistas criativos, como Emil Forsberg, Christopher Nkunku e Dani Olmo, o capitão Marcel Sabitzer demonstrando profunda polivalência e a defesa passando segurança ao resto do time, o atacante que jogará - seja Schick, que ainda não tem a permanência definida, ou Poulsen, que talvez consiga voltar de lesão - certamente terá oportunidades. O esquema 3-4-2-1, já utilizado pelo comandante na temporada, tem potencial para atuar em perfeita sintonia e auxiliar na inédita classificação dos touros vermelhos.


Imagem: Reprodução/Site oficial Bundesliga

O time que mais gostou do novo formato: Atlético de Madrid


Finalista duas vezes em três anos, os colchoneros chegaram a jogar a prorrogação de ambas as finais disputadas - as duas contra o Real Madrid. A primeira - aquela do fatídico gol de Sérgio Ramos nos acréscimos - talvez seja a mais dolorida, já que os comandados de Diego Simeone venciam o jogo até os 48 minutos do 2º tempo. Já na segunda, Antoine Griezmann perdeu um pênalti no tempo normal, mas o Atleti conseguiu levar o jogo para a disputa de penalidades, na qual, novamente, foram derrotados.


Com o novo formato propondo jogos únicos, nenhuma equipe se identifica mais com a ideia de acabar com uma partida em 90 minutos do que o Atlético de Madrid. No conhecido 4-4-2 formado pelo técnico argentino, o que não falta é raça, elevado ímpeto defensivo e contra-ataques fatais para matar o jogo. Raramente o time é visto propondo jogo contra adversários mais complicados, mas isso não diminui seu favoritismo - muito pelo contrário. Não por acaso os rojiblancos eliminaram o atual campeão Liverpool, que embora tenha dominado os confrontos, não tiveram a habitual facilidade para furar a rebuscada defesa e, caso furasse, tinha dificuldades para passar pelo goleiro Oblak. Aliado à isso, 'El Cholo' Simeone ainda implementa a eficiência nos ataques da equipe. Álvaro Morata, por exemplo, tem 16 gols na temporada e voltou bem da quarentena. Seu bom desempenho pode torná-lo o companheiro ideal para João Félix, o jovem português que custou mais de 100 milhões de euros aos cofres do clube. Definitivamente, o "retranqueiro" Atlético de Madrid pode dar muito trabalho e concluir o caminho até a final em busca do inédito título da UEFA Champions League.


Imagem: Reprodução/Goal

A subestimada e encantadora Atalanta


Mais um dos clubes sem títulos de expressão, a Atalanta talvez seja a maior surpresa e a sensação do torneio. Há algumas temporadas, o time de Gian Piero Gasperini vem demonstrando sua força e, algumas vezes, até se posicionaram à frente de times de grande porte na Itália. A classificação para as quartas-de-final na sua primeira disputa de Liga dos Campeões já torna a participação dos nerazurri especial, mas o grande momento foi o milagre realizado pela equipe na fase de grupos. Nos jogos de ida, a equipe não somou nenhum ponto após as três derrotas; mas nos jogos de volta, com o empate contra o Manchester City e as vitórias sobre Shaktar Donetsk e Dínamo Zagreb, a Atalanta se classificou historicamente para o mata-mata.


Desde a realização do sorteio, o confronto contra o PSG é considerado como a eliminação certa do clube de Bérgamo, visto que o elenco parisiense possui nomes de impacto muito maior - o que não deixa de ser verdade. O impasse é que o momento e o futebol jogado pela Atalanta não estão sendo analisados da devida maneira. A formação com 3 zagueiros, 4 meias e 3 homens de frente em constante fluidez vem sendo uma das maiores armas de Gasperini. O esquema utilizado pelo italiano, aliado à mentalidade bastante ofensiva que ele propõe, colocam a equipe na prateleira mais alta no quesito de melhores times da temporada. Não por acaso a Atalanta não perde uma partida desde o dia 20 de janeiro deste ano e possui o melhor ataque do campeonato com 87 gols em 32 partidas - 19 a mais que o 2º melhor. Para não perder o costume, os comandados de Gasperini ainda fizeram 8 gols nos dois jogos de oitavas-de-final da Liga dos Campeões contra o Valencia.


O segredo para o funcionamento do estilo de jogo proposto é a marcação alta do time inteiro em sincronia, o apoio dos alas e até dos zagueiros no ataque, o meio-de-campo com bastante intensidade e os jogadores mais ofensivos mostrando alta eficiência. Alejandro 'Papu' Gómez, Josip Ilicic e Duvan Zapata, os que geralmente figuram entre os titulares, não decepcionam lá na frente. Além disso, o elenco ainda conta com bons substitutos, permitindo a rotação da equipe e a manutenção das táticas sem perda de qualidade. Pelo momento de cada time e visando que o PSG terá pouco tempo para se preparar para o grande jogo, não seria errado apontar a Atalanta como favorita para o confronto.


Imagem: Reprodução/Footure

 

A UEFA Champions League, ano após ano, comprova a teoria de que futebol se joga no onze contra onze dentro das quatro linhas, não no papel com a folha salarial. Mas, mesmo com tantos "azarões" nas últimas edições, boa parte dos espectadores esquecem que, num mata-mata, tudo pode acontecer - ainda mais com a disputa em jogo único. E pior que isso: preferem acreditar que os clubes com elenco mais renomado ou até mesmo os com a história mais vasta são os favoritos unanimemente.


Futebol é esporte de momento: nem sempre o melhor vence e, principalmente nesse novo formato, não há favoritismo exacerbado. E na parte sem títulos do chaveamento, certamente o fator camisa não existe. Portanto, será que o Paris Saint-Germain passará com tanta facilidade como a que está sendo prevista? Só aguardando o mês de agosto para descobrir.

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