A opção do Vasco da Gama por efetivar o auxiliar-técnico Ramon Menezes gerou bons frutos nesse início de trajetória. Ainda há muito a aprimorar, mas a melhora é evidente.
Após anos passando por uma grande crise política e econômica, o Club de Regatas Vasco da Gama parece estar, finalmente, partindo para bons rumos. Não apenas fora de campo, com a explosão no número de sócios após a campanha no final de 2019, a construção do novo CT, a aprovação do projeto para a reforma de São Januário, o pagamento de boa parte dos salários atrasados e a alta possibilidade de eleições diretas pela primeira vez na história do clube. Dentro das quatro linhas, a efetivação de um jovem treinador e a mescla entre experiência e juventude dos jogadores proporcionam algo que a apaixonada torcida cruz-maltina não sentia há um longo tempo: animação ao assistir o time.
Não que Ramon Menezes tenha organizado uma revolução tática e que o elenco vascaíno seja rico em peças, mas, nos primeiros jogos após o ex-jogador assumir, o time vem atuando sob aprovação de grande parte da torcida e da imprensa. É verdade que no ano passado, com Vanderlei Luxemburgo, a equipe conseguiu ascender dentro dos limites, mas a proposta de Ramon se mostra mais inovadora e promissora. Quando comparado a Abel Braga, treinador no início de 2020, a diferença é enorme.
As mudanças providenciais
A principal alteração no time titular certamente foi na defesa. O experiente capitão Leandro Castán, que antes jogava ao lado de Werley, agora forma com o jovem Ricardo Graça a dupla de zaga - e, por sinal, tem sido muito segura. O impasse criado por ambos serem canhotos era a justificativa usada para a manutenção da antiga dupla, mas a "ousadia" de Ramon provou o contrário. A qualidade de ambos, tanto na marcação como na saída de bola, garante a titularidade.
Ainda na primeira linha, a ofensividade do lateral-direito Yago Pikachu fortalece a variação tática que o comandante implantou. Do habitual 4-3-3, a equipe se adapta à um esquema com três na saída de bola (Castán, Ricardo e Henrique) Pikachu subindo para a linha de meio e Talles recuando na esquerda para ajudar.
No meio-campo, Andrey continuou o bom momento atuando como primeiro volante. A evolução do cria da base é evidente, dando qualidade na saída de bola, ajudando na marcação e aparecendo bem no ataque. O argentino Martín Benítez, emprestado pelo Independiente, ganhou muita liberdade no meio e vem sendo um dos destaques nos últimos jogos. Com muita raça e habilidade com a bola no pé, atrai o interesse para ser comprado pelo Vasco.
As mudanças necessárias
Apesar do excelente começo de Ramon no comando do Vasco, é evidente que ainda são necessárias mudanças com o objetivo de aprimorar o estilo de jogo da equipe. Como a troca de técnicos com frequência é vista com normalidade no Brasil, é importante ressaltar a normalidade dos equívocos, visto que o elenco cruz-maltino é enxuto e esse é o primeiro trabalho de grande porte do ex-atleta.
Embora tenha feito golaços e seja um dos artilheiros do time no Brasileirão, Fellipe Bastos já entrou em notória queda de rendimento. Não tem agregado com intensidade e qualidade no meio-campo vascaíno, apesar do potente chute de longe. O recém-contratado Carlinhos e crias da base como Bruno Gomes e Juninho já pedem passagem.
O trio de ataque vem alternando muito por conta de lesões, mas é fato que o ideal é Talles Magno, Germán Cano e Vinícius Paiva. A variação tática prejudica o garoto Talles, que tem que ajudar mais do que o normal na marcação e ainda precisa se posicionar muito longe do gol para receber a bola. Mesmo com um começo de atuações fracas, a partida contra o Fluminense no último sábado (29) provavelmente foi a melhor do ponta-esquerda no ano, apesar da expulsão boba no final do segundo tempo. Gabriel Pec e Guilherme Parede já atuaram na posição de Vinícius, que, machucado, ficou fora de alguns jogos e ainda contraiu o coronavírus, mas não conseguiram render o esperado, principalmente por não terem as mesmas características.
Cano, embora tenha 3 gols no Campeonato Brasileiro, passa por dificuldades. O centroavante argentino, conhecido pelo poder de rápida e eficiente definição, se encontra muito isolado no ataque e com poucas chances criadas para concluir. Precisa da aproximação dos companheiros para participar mais ativamente da partida e ter a possibilidade de finalizar para o gol, sua especialidade.
O problema é que, sem muitas opções de reposição, o time fica prejudicado com a perda de um jogador titular. São necessárias peças de qualidade para compor o elenco. Carlinhos, Neto Borges e Guilherme Parede foram alguns que chegaram para tentar amenizar a problemática, além de atletas da base que possuem capacidade para figurar no plantel profissional. Mesmo assim, ainda há carências em alguns setores do campo.
A animação da torcida com o treinador e com o time é justa. Fazia tempo que o Vasco da Gama não contava com ideias tão promissoras por parte da comissão técnica, o carinhosamente apelidado "Ramonismo", e, no plantel atual, alguns jogadores merecem elogios. Finalmente a equipe conta com uma dupla de zaga segura, meias de qualidade, pontas agudos e um centroavante matador - essa última em especial. É evidente o impacto que Germán Cano causou com sua chegada ao Gigante da Colina.
Entretanto, a ilusão não deve ser adotada. Os salários ainda não estão em dia, a crise política ainda não cessou e a temporada apenas começou. O Vasco permanece vivo na Copa do Brasil e na Sul-Americana, além de figurar na parte de cima da tabela no Brasileirão, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido e a falta de profundidade no elenco é um impasse que a equipe vive. Para o clube com a história mais bonita do futebol e um dos maiores do país em questão de grandeza, o panorama atual não está à altura. A torcida cruz-maltina cada vez mais prova ser uma das mais apaixonadas no Brasil e deve exigir retornos na mesma medida.
A criação do Ramonismo não é apenas devido às mudanças vistas dentro de campo implantadas pelo treinador. É, também, mais uma forma de apoio organizada pela torcida do Vasco - o principal fator de sustentação do clube.
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