Novo treinador rubro-negro chega precisando provar muita coisa
A Nação tem um novo Papa, já diria Marcos Braz: é o catalão Domènec Torrent. A contratação foi fechada após uma semana de conversas entre o já citado vice-presidente de futebol do Fla, Bruno Spindel, diretor executivo, e os alvos para assumir o cargo.
Olhando pelo currículo, Dome, como também é conhecido, foi auxiliar de Pep Guardiola por 10 anos. Antes disso, treinou times pequenos na Espanha e, em 2018, assumiu o New York City FC, dos Estados Unidos. Na terra do Tio Sam ele conseguiu bons números, com a ressalva dos problemas defensivos apresentados e de não ter chegado ao título da Major League Soccer (MLS): foram 60 jogos, 29 vitórias, 15 empates, 16 derrotas, 104 gols marcados, 76 gols sofridos e 56,6% de aproveitamento.
Domènec não era o desejo número 1 do clube, mas alguns dos primeiros nomes da lista, como os portugueses Leonardo Jardim e Carlos Carvalhal, preferiram continuar no futebol europeu. Além disso, o novo treinador, durante as conversas com a diretoria carioca, demonstrou grande vontade de trabalhar no Flamengo, conhecimento sobre o time e compromisso em não modificar muito, pelo menos logo de cara, o que foi feito por Jorge Jesus.
Com a ideia de trazer, preferencialmente, um técnico estrangeiro, com a procura por nomes pouco conhecidos no Brasil, e tendo escolhido alguém sem grande experiência como treinador em grandes clubes, questionamentos foram feitos aos dirigentes do clube: por que não um brasileiro? Será que não há bons profissionais no Brasil? Não tem alguém que possa manter o nível do trabalho de Jesus?
É claro que há bons treinadores no Brasil, ainda que não sejam a maioria, assim como na Europa. E os melhores nomes estão empregados. Aliás, dizer se irão ou não manter o nível do trabalho anterior é impossível, independentemente da nacionalidade.
Primeiro porque o que aconteceu foi algo histórico. E segundo que não há no mundo um profissional, atualmente disponível, tão experiente e vitorioso como Jorge Jesus, com uma filosofia de futebol minimamente parecida com a sua e que queira vir trabalhar no atual “ninho de covid” do planeta.
Uma aposta interessante
Diante da falta de uma unanimidade, Domènec Torrent se torna uma aposta interessantíssima. Isso porque ele foi o braço direito de um dos melhores técnicos da história, ou seja, trabalhou e conviveu com grandes jogadores em grandes clubes, mesmo não sendo o chefe da comissão técnica. As referências são as melhores, e dizem respeito a um profissional estudioso, preocupado com os mínimos detalhes, que gosta de jogar ofensivamente e de bom relacionamento com os atletas.
Mas, ainda assim é uma aposta. Obviamente, Domènec já demonstrou sua qualidade como auxiliar. Já como treinador, lhe falta um grande sucesso em um grande clube. Ele terá de se adaptar rapidamente ao futebol no Brasil, tendo poucas semanas livres para treino. E como se não bastasse, a pressão será grande, bem como as comparações com o que foi feito anteriormente.
No processo de triagem do rubro-negro, um dos fatores favoráveis a Dome foi sua disposição em dar continuidade ao trabalho de Jorge Jesus. Esta é uma questão chave: o catalão é adepto do chamado jogo de posição, enquanto Jorge Jesus adota um ataque mais móvel.
Mudanças ocorrerão, mas provavelmente serão gradativas. E nem tudo será novo; treinos intensos, jogo propositivo e no campo de ataque, marcação com linhas altas e pressão pós perda são conceitos com os quais o elenco do Flamengo já está completamente familiarizado.
A despeito de modificações, surgem algumas dúvidas: Domènec manterá o esquema do time? Arrascaeta e Everton Ribeiro continuarão sendo a dupla de pontas? Será preservada a dupla de ataque com Bruno Henrique e Gabigol?
Para que dê certo, é preciso conciliar a ideia de jogo com as características dos jogadores. Este será um dos grandes desafios, além é claro da pressão por bom futebol e títulos. Mas estrutura e mão de obra para isso não faltam. Só o tempo dirá se Domènec Torrent foi uma aposta certeira.
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