O meia foi o último brasileiro a receber o prêmio de melhor jogador do mundo, mas não encantou tanto quanto outros premiados
Na última semana, surgiu uma polêmica na bolha do futebol brasileiro: Ricardo Izecson dos Santos Leite, o Kaká, foi um jogador superestimado. Será? Antes de responder a essa questão de forma mais direta, é preciso abordar alguns pontos importantes em relação ao ex-jogador.
Carreira e características de Kaká
Kaká foi revelado e começou sua carreira como atleta profissional no São Paulo, em 2001. Em 2002, aos 20 anos de idade e atuando poucos minutos, ele se tornou campeão mundial com a Seleção Brasileira, sendo o jogador mais jovem daquele elenco. O meia acabou sendo contratado pelo Milan, em 2003, onde ganhou quase tudo e viveu o auge da sua carreira.
Em seguida, no ano de 2009, através de uma transferência milionária, Kaká foi para a Espanha, jogar pelo Real Madrid. Porém, com lesões e outros problemas, o brasileiro não teve o sucesso esperado e acabou voltando ao Milan, em 2013. Por lá teve uma breve passagem, assim como pelo São Paulo, quando retornou ao Brasil, por empréstimo, em 2014. Finalmente, de 2015 a 2017, o jogador atuou pelo Orlando City, dos Estados Unidos, até anunciar sua aposentadoria. Durante essa trajetória, ele ainda foi titular da seleção brasileira, com destaque para os mundiais de 2006 e 2010.
Além da Copa do Mundo de 2002, Kaká conquistou importantes títulos na carreira. Com destaque para o Campeonato Italiano de 2003/04, Liga dos Campeões da Europa de 2006/07, Mundial de Clubes da Fifa de 2007, Copa do Rei da Espanha de 2010/11, Campeonato Espanhol de 2011/12 e Copa das Confederações de 2005 e 2009.
A nível individual a carreira de Kaká também foi vitoriosa, sobretudo por ter sido eleito, em 2007, o melhor jogador do mundo pela Fifa e pela revista francesa France Football, ao receber a tão cobiçada Bola de Ouro daquele ano. No Brasil, o então jovem jogador do São Paulo ganhou os prêmios Bola de Prata e Bola de Ouro da revista Placar, pelo seu desempenho no Campeonato Brasileiro de 2002.
Em relação às características de jogo, Kaká era um meia atacante, que também atuava como segundo homem mais avançado, e tinha nas suas famosas arrancadas seu ponto forte. Para isso, contava com muita força e explosão física. Tinha bom drible, ótima finalização e também podia dar passes para gols, apesar de não ter sido um grande organizador de jogadas, como outros da sua posição. Na carreira, o meia brasileiro disputou 685 partidas oficiais, balançou a rede 225 vezes e deu 163 assistências.
Desempenho
Ao sair do Brasil, em 2003, rumo ao Milan, poucos imaginavam que Kaká chegaria para ser titular, visto que a equipe rossonera era a atual campeã da Liga dos Campeões e contava com jogadores consagrados, inclusive na mesma posição do jovem meia, como eram os casos de Rui Costa e Rivaldo, companheiro de seleção brasileira.
Em 2007, veio o grande momento na carreira do brasileiro. Os italianos conquistaram a sétima taça da Liga dos Campeões, principal torneio de clubes do mundo. Nessa temporada, Kaká jogou como segundo atacante, foi artilheiro do torneio continental, com 10 gols, melhor jogador da posição e melhor jogador no geral da Europa e, como já dito, melhor jogador do mundo.
Pode-se dizer que por 6 anos o ex-jogador atuou no mais alto nível, estando entre os 10 melhores jogadores do mundo de 2007 a 2010. Porém, a partir do final de 2009, já tendo sido contratado a peso de ouro pelo Real Madrid, começaram a aparecer algumas lesões na vida do astro brasileiro, como uma pubalgia e problemas no joelho esquerdo, que inclusive o levaram para a mesa de cirurgia. O fato é que daí em diante, Kaká nunca mais foi o mesmo.
Pela seleção brasileira, o ídolo do Milan foi o principal jogador do país entre 2006 e 2010. Na Copa da Alemanha, do chamado “quadrado mágico”, ele era o jogador que chegou em melhor forma física, a frente de Adriano, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho. Mas, com uma equipe tão mal preparada, não foi possível fazer muita coisa. No Mundial da África do Sul, Kaká chegava como um dos maiores nomes do torneio, mas longe da boa fase, principalmente por conta das tais lesões.
Com essa trajetória, ele foi mesmo superestimado? Não. E eis as razões.
Afinal, o que é ser superestimado no futebol?
No futebol, a questão da superestima sobre um jogador vai além da parte financeira. Nesse universo, o atleta superestimado é aquele que é elogiado, valorizado e adorado além da conta. Ou seja, acontece quando a valorização, vinda da mídia, dos torcedores e do clube, não condiz com o desempenho em campo.
Com essa perspectiva, não é possível dizer que Kaká foi ou é superestimado. Em seu melhor momento, sistematicamente, não houve um exagero, por parte de imprensa e fãs, nos elogios. O brasileiro era um dos melhores jogadores do mundo, o melhor em 2007, era o protagonista de um dos maiores clubes do planeta, era decisivo e conquistava títulos grandes. Ora, o que falar de um atleta nessa fase?
É legítimo contestar que Kaká, em seu auge, não jogou tanto quantos outros jogadores que foram eleitos melhores do mundo. É verdade que os 65 milhões de euros gastos pelo Real Madrid saíram caros para o clube, já que o brasileiro não rendeu o que se esperava dele na Espanha. Também é fato que seu futebol no mais alto nível começou e terminou muito cedo, durando, mais ou menos, dos 22 aos 27 anos de idade.
Mas é fundamental considerar o contexto em que esse auge do Kaká se deu. Em 2007, havia um hiato de gênios no futebol brasileiro e mundial. Zidane estava aposentado, Ronaldo já não conseguia vencer os problemas físicos, Ronaldinho começara sua fase descendente na carreira e outros craques não atingiam o mesmo sucesso a nível coletivo. Em relação ao futebol brasileiro, Adriano não manteve o mínimo de profissionalismo necessário para seguir a carreira e Robinho não chegou nem perto de ser o que todos imaginavam. Para completar, Lionel Messi e Cristiano Ronaldo ainda eram jovens atletas.
Diante desse cenário é que Kaká explodiu e se tornou melhor jogador do mundo. Ele conseguiu ir além do que a maioria imaginava que ele fosse capaz (na realidade, colocava-se Robinho como o futuro brasileiro Bola de Ouro). Durante esse período de ápice, de maneira geral, ele recebeu uma atenção e valorização coerente com seu status à época. Com a exceção de alguns exageros, não se via ou ouvia pessoas dizendo, por exemplo, que o meia estava entre os melhores jogadores brasileiros da história.
Realmente, Kaká não está no top-10 da história do futebol no Brasil e no mundo. Todavia, conquistar o que ele conquistou, jogando da forma como jogou, não é algo que um “atacante comum” faria.
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