Em meio ao surto de Covid-19, Carioca é o primeiro estadual a ter as atividades retomadas.
Na mesma semana que o Estádio Jornalista Mário FIlho - o Maracanã - completou 70 anos de existência, o campeonato carioca teve seu retorno decretado, mesmo que sem unanimidade na questão do apoio à ideia. Em meio à pandemia do novo coronavírus, foi inaugurado, no dia 9 de maio, um hospital de campanha nos terrenos do Templo do Futebol, com o intuito de auxiliar na contenção da doença, que vem crescendo em números todos os dias no Brasil. Mesmo assim, o Maraca foi o palco da retomada do Cariocão, recebendo Bangu e Flamengo na última quinta-feira (18). Após pressão dos presidentes de alguns times, como Rodolfo Landim, do rubro-negro, e Alexandre Campello, do Vasco, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ) cedeu e autorizou a volta da competição. E o jogo foi realizado justamente na data que o estado registrou o terceiro maior número de mortes (274) em um período de 24 horas desde o início da pandemia, sendo 2 delas no hospital ao lado.
Hospital de Campanha do Maracanã, ao lado do estádio. (Imagem: Reprodução/Uol)
Sem a tradicional festa realizada pela torcida rubro-negra e em um local vazio onde os gritos dentro de campo prevaleciam, muito diferente do habitual Maracanã lotado, o Flamengo venceu o Bangu por 3 a 0 e garantiu a liderança do Grupo A. Os gols da equipe foram marcados por Arrascaeta, Bruno Henrique e Pedro Rocha. Na outra partida que aconteceu, na sexta-feira (19), a Portuguesa e o Boavista empataram em 0 a 0, no Estádio Luso-Brasileiro. O Vasco da Gama, o outro clube grande que apoiava o retorno da competição, seria o próximo a jogar, no domingo (21), contra a equipe do Macaé, em São Januário. Já o Botafogo e o Fluminense, que são contrários à volta das atividades futebolísticas, jogariam hoje (22) - o alvinegro no Nilton Santos e o tricolor no Maracanã. O outro jogo, entre Madureira e Resende, também seria no domingo, no Conselheiro Galvão.
Diferentemente do previsto, o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, decretou, no início da tarde de sábado (20), que as atividades do Carioca estariam suspensas até o dia 25 de junho. Logo após a divulgação da notícia, a Ferj convocou uma reunião emergencial com os clubes, exceto Botafogo e Fluminense, para avaliarem a possibilidade da realização dos jogos em outra cidade, que seria Saquarema. Mas, no mesmo dia, o prefeito retificou seu discurso, afirmando que ele apenas era válido para o alvinegro e para o tricolor. Mas a Federação, no meio da confusão causada pelas diferentes decisões, resolveu adiar também os jogos entre Vasco e Macaé, para quarta-feira (24), e Madureira e Resende, para quinta-feira (25), ambos no mesmo local já marcados anteriormente. Depois de todas essas mudanças, ainda aconteceu mais uma e, até o momento, a última: os jogos que já haviam sido remarcados foram passados para as datas 26 e 27 de junho, enquanto os clubes contrários às decisões continuam sem data marcada para os jogos. Segundo a Ferj, as mudanças foram realizadas no intuito de respeitar o decreto de Crivella, que afirmava que os jogos deveriam ser disputados após o dia 25/06.
Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro (Imagem: Reprodução/Uol)
Contrários à ideia de voltar à jogar em junho, o Botafogo e o Fluminense já recorreram ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), após entrarem com ação no Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro (TJD-RJ), no qual tiveram seus pedidos indeferidos. Após duas reuniões com mediação do STJD, os presidentes Nelson Mufarrej e Mário Bittencourt, respectivamente do alvinegro e do tricolor, não se entenderam com a Ferj e não chegaram a um acordo. Com isso, será necessária a intervenção do presidente do STJD, Paulo César Salomão Filho, para a tomada de decisão final, que ocorreria no sábado (20), mas após o decreto do prefeito Crivella e, depois, a retificação neste decreto, a decisão do magistrado foi adiada, ainda sem previsão para o comunicado oficial. Ambos os clubes são oposição à Federação por afirmarem que a volta do campeonato ainda em junho é desnecessária e irresponsável, já que o pico da pandemia na cidade ocorreu há menos de um mês e o número de casos continua alto. Além disso, os dois consideram necessários, pelo menos, 10 dias de preparação antes de retomarem as atividades, visto que passaram três meses sem treinar e, portanto, seria inviável uma volta na atual conjuntura.
A pressa para a retomada do Carioca ainda não possui tanto embasamento, pois grande parte dos outros estaduais ainda não tem data para voltar, assim como as competições de grande porte do país e do continente. Os clubes de menor investimento, os mais afetados economicamente durante a quarentena, passam por mais necessidades e buscam uma tentativa de se restabelecer, já que não contam com as finanças arrecadadas nas partidas do campeonato, enquanto os grandes do Rio de Janeiro se dividem quanto à mentalidade de retorno. Inclusive, os clubes contrários à decisão concordam que a Ferj deveria ser responsável na concessão de cotas para as equipes de menor expressão. Os jogadores do Fluminense lançaram um manifesto, se posicionando contra a decisão da Federação, enquanto o jogador do Botafogo, Keisuke Honda, usou o Twitter para demonstrar curiosidade nos motivos para a volta do estadual.
"Estou louco em querer saber uma razão lógica sobre por que recomeçaremos o campeonato?", perguntou o japonês Honda, do Botafogo. (Imagem: Twitter de Keisuke Honda)
A população brasileira divide opiniões no que diz respeito ao campeonato carioca: enquanto uns defendem o retorno do futebol, já que muitas outras atividades estão sendo gradativamente liberadas, há uma boa parcela do povo que não enxerga a necessidade da volta na atual situação que vive o Brasil, pois existem assuntos muito mais sérios que o esporte no momento. A realidade é que o público que estamos acostumados a assistir ou presenciar no Maracanã lotado está próximo de ser atingido, mas, infelizmente, não da maneira que gostamos e sentimos emoção. E, sim, com o número óbitos causados pelo surto de Covid-19.
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