Pela segunda vez em sua história, o Bayern de Munique conquistou a tríplice coroa. E esta conseguiu ser mais massacrante que a outra.
A costumeira final de Liga dos Campeões em uma tarde de sábado foi substituída para o ano de 2020. Em uma edição marcada por excepcionalidades, tanto no formato de disputa como no que ocorreu dentro de campo, o último domingo (23) foi o escolhido para a realização da partida. O contraste foi na nomeação do campeão.
Um dos fatos mais ressaltados a respeito das fases finais da competição foi a numerosa presença de clubes que nunca haviam levantado a orelhuda. Inclusive, após o sorteio e antes da volta da Champions League, o placar agregado de títulos entre uma chave e outra era 26 a 0 - o que significava que haveria um finalista sem troféu. Times já consagrados foram ficando para trás no decorrer da disputa: Real Madrid, Juventus e Chelsea nas oitavas-de-final e Barcelona nas quartas. A possibilidade de um campeão inédito nunca esteve tão próxima. O único problema foi a demora para notar a melhor equipe da temporada.
O rolo compressor
Provavelmente, o Bayern de Munique foi realmente percebido quando escancarou a crise que o Barcelona vive. Afinal, quem esperaria aquele 8 a 2? Acontece que desde o início da temporada o Gigante da Baviera dava indícios de dominância absoluta. Este início, no caso, se refere ao momento em que Hans-Dieter Flick assumiu o comando da equipe no lugar de Niko Kovač. O mesmo Flick, por acaso (ou não), esteve presente no fatídico 7 a 1, como auxiliar de Joachim Löw.
Seu contrato, que seria até o fim de dezembro de 2019, foi estendido pela excelente sequência de resultados. Embora tenha passado por dificuldades no início da Bundesliga, o Bayern conseguiu o octocampeonato consecutivo com certa distância de seus concorrentes. Para completar o domínio nacional, foi campeão da Copa da Alemanha, com direito à goleada por 4 a 2 na final contra o Bayer Leverkusen.
O que mais impressionou, além dos massacres que o Bayern exercia em todas as competições, foi a maneira que o time atuou. A chegada de Hansi Flick pareceu ter potencializado todos os atletas. Mesmo com diversos jogadores mudando de posição no esquema 4-2-3-1, o mais utilizado, o rendimento até aumentou.
O fator decisivo da temporada foi a coletividade, mas certos nomes merecem destaque. Manuel Neuer, que retomou sua confiança e esbanjou a conhecida qualidade e fundamentos tanto debaixo das traves quanto como líbero. Joshua Kimmich, o segundo jogador mais importante do elenco, demonstrando sua polivalência ao atuar como lateral-direita e como volante - sempre muito bem. Alphonso Davies, o jovem canadense que foi recuado para a lateral-esquerda e já é considerado um dos melhores do mundo na posição. Thomas Müller, que se reinventou ao exercer a função de armar a equipe mais distante da área e foi o líder de assistências - 21 só na Bundesliga (recorde). E, claro, Robert Lewandowski, tendo a melhor temporada da carreira e mostrando que o centroavante não precisa apenas marcar gols - e, por sinal, ele fez tantos que acabou como artilheiro de todas as competições que disputou -, mas também ter a qualidade de sair da área e ajudar no desenrolar das criações ofensivas.
Todo o plantel de jogadores com um forte poder individual se aliaram ao jeito de jogar que Flick implantou. Domínio na posse de bola, passes sempre objetivos, pressão na marcação começando no último terço do campo e dificultando a saída de jogo do time adversário, fora a dinâmica de movimentações para facilitar os toques. Com grandes nomes e um estilo de jogo dominante em todas as partes do campo, fica fácil de perceber que o poder bávaro não é casual.
O PSG em ascensão
Mesmo saindo com a derrota do Estádio da Luz, a temporada do clube parisiense merece todos os holofotes. Além do triplete nacional, o vice-campeonato inédito na Liga dos Campeões coroou a grande caminhada. A experiência de perder uma final deve trazer aprendizados ao bilionário PSG. O time se baseou tanto na qualidade individual de atletas como Neymar e Mbappé que, em meio ao futebol coletivo do Bayern, ficou como personagem secundária. Mesmo com o grande número de partidas vencidas devido ao talento dessa dupla e do auxílio de Di María e Icardi no ataque, apenas isto não foi suficiente para levantar a orelhuda.
Embora a equipe esteja longe de ser fraca do meio-campo para trás, e nítido que são necessárias mudanças na forma de jogar e reforços para a próxima temporada. O treinador Thomas Tuchel precisará renovar seu elenco, visto que o time já perdeu Cavani e Meunier e ainda perderá Thiago Silva; nenhum dos três renovou seu contrato com o clube francês. Algumas peças não muito renomadas como Paredes e Kimpembe já se mostraram preparadas serem mantidas dentre os onze iniciais.
Para uma equipe em ascensão como o Paris Saint-Germain, um título europeu é o necessário para o reconhecimento no contexto continental, já que no nacional isso já é realidade. Inclusive, a chegada do Lyon nas semifinais da Liga dos Campeões, mesmo que em uma temporada atípica, refutou a ideia de que o único time bom na França é o PSG; assim como a mesma situação com o Leipzig recolocou a Alemanha como um país onde o futebol é competitivo.
A paralisação das competições futebolísticas fez o seu retorno parecer mais saboroso do que nunca. Em meio à uma temporada repleta de adversidades e excepcionalidades, o desfecho não foi tão incomum assim. O gostinho de tríplice coroa voltou ao paladar do Bayern de Munique com mais intensidade do que na última vez.
As lições que o maior esporte do planeta traz à tona não devem passar despercebidas. Não existe "campeonato de um só time"; as cinco grandes ligas europeias, cada uma com suas particularidades, demonstraram esta tese nessa temporada. Além disso, a Champions League escancarou a importância de um bom jogo coletivo. Obviamente existem exceções, mas o individual, embora importante, não chega aos pés de um grupo entrosado e táticas que potencializam o elenco. Curiosamente, o Bayern esbanja ambos os conceitos.
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